
"Gran Cuñado", que está na quinta edição no programa de maior audiência do horário nobre argentino, é uma paródia do Big Brother que reúne humoristas que imitam os 19 políticos mais importantes da Argentina e é visto por mais de 3 milhões de pessoas. O quadro acontece no "Showmatch", um programa diário de variedades - uma espécie de Domingão do Faustão mais picante e debochado - comandado pelo influente Marcelo Tinelli, no canal 13, do grupo Clarín, que edita o principal jornal do país.O povo decide por telefone, toda semana, o político que sai da casa. Há para todos os gostos: o ex-presidente Néstor Kirchner, o vice-presidente Julio Cobos, o prefeito de Buenos Aires e ex-presidente do Boca Juniors Mauricio Macri, o empresário oposicionista Francisco de Narváez, entre outros. Mas a principal figura é a da presidente Cristina Kirchner, interpretada pelo humorista Martín Bossi.
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O "sucesso" de frases como "hasta la victoria, secret" (um trocadilho com a frase de Che Guevara, "hasta la victoria, siempre", e a famosa marca de lingerie Victoria Secret), de suas caras e bocas e do jeito perua da personagem deixou o governo irritado. O ministro da Justiça, Aníbal Fernández, pediu durante uma entrevista que o Gran Cuñado "deixasse um pouco Cristina de lado". Em vão, ela segue como o maior sucesso do programa.
Roteirista vê intimidação
"Houve uma ameaça direta a mim. Mas faço humor político há 20 anos, nas revistas e nos jornais. Procuro acreditar que as ameaças não vêm diretamente do governo. Por isso não dou valor", conta o cartunista Nik, um dos roteiristas do programa, ao UOL Notícias.
Cristina faz sucesso enquanto personagem do programa, mas na vida real, fora da tela de TV, a situação é outra. "Nem se a gente tentasse o programa conseguiria arranhar ainda mais a imagem dos Kirchner. Humorista nenhum consegue fazer mais do que eles mesmos fizeram para afetar a própria imagem", provoca Nik. A pesquisa do instituto Ibarometro mostra que 16% da população de Buenos Aires acreditam que Cristina é a personalidade política mais prejudicada pelo "Gran Cuñado".
Para Pablo Lopez Fiorito, diretor de projetos da Ibarometro, o resultado da pesquisa não significa muito. "É apenas uma pesquisa. Vários outros fatores vão influenciar as eleições", diz.
"Não é nossa intenção prejudicar ninguém. Queremos representar todos de maneira igual. Mas é difícil saber se o programa irá influenciar alguém na hora do voto", afirma Nik. "Mas a população está com raiva dos Kirchner, isso sim vai influenciar", completa.
Nik justifica o programa como sendo uma ferramenta que apenas mostra como os políticos estão sem credibilidade no país. "Humor político é satírico. Não dá pra fazer humor político em favor de alguém. Mas o político argentino já tem uma imagem ruim perante a sociedade por natureza", diz.
Menem propõe chapa com a falsa Kirchner
O certo é que os políticos da Argentina já percebem o poder do "Gran Cuñado". Muitos citam o episódio do ex-presidente argentino Fernando de la Rua (1999 - 2001). Dizem que o programa ajudou na queda do ex-presidente, sempre retratado como um velho tolo com constantes lapsos de memória em uma edição anterior do "Gran Cuñado".
Este ano, o ex-presidente Carlos Menem tentou capitalizar com o programa. O atual senador pela província de La Rioja afirmou em visita à casa do "Gran Cuñado" que será candidato à presidência da Argentina em 2011. Sentindo-se à vontade, Menem chegou a convidar a falsa Cristina Kirchner para compor a chapa.
Até mesmo o verdadeiro Néstor Kirchner já deu indícios que poderia fazer uma visita ao "Gran Cuñado". Sergio Massa, chefe do gabinete de Cristina, disse que o ex-presidente participaria se não tivesse de encontrar a versão falsa da mulher.
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